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O hospital como moradia
Que não me permitia entrar,
Tal moradia de campainha vermelha
Que eu ensaiava tanto o que desejava falar
Para meu pai enquanto ele nada dizia
Deitado naquela cama hospitalar
De olhos fechados perdeu seus últimos instantes
Sem ver a beleza do mundo
Acredito que sentia apenas o chacoalhar da ambulância
Seus olhos acompanhavam os meus
Mas ele não me ouvia
Não me respondia
Eu tinha ficado só com ele naquele dia
Lembro-me que na manhã passada ele caiu da cama
Sorte fora a empregada ter visto e me avisado,
Não mais se alimentava porque tudo vomitava
Esquecia nossos nomes
Usava fraldas
Tornou-se bebê novamente
Retornou porém ao fim
Noites de sono perdidas
Céus, não desejo isso a ninguém
Era doloroso ter de vê-lo morrendo
(Imagina a dor de se estar morrendo)
Mas antes eu queria que ele me escutasse
Mamãe nos disse que ele apertou a mão dela quando ela falou que nós amávamos ele
Ai então ele se foi.

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